a perca enjeitada


Não tenho ciúme
dessa prima fina
em berço de ouro
embalada 
de doutores afilhada
de seu nome "Perda"
o seu "ê", frouxo e rombo
o seu "dê", de dó e débil.

O meu nome é gume 
afiado
a gosto do povo 
é a minha voz clara
sem vacilar 
o meu "cê", de cavalo enérgico
o meu "é", de fel e mel
mas do seu nome eu não zombo
mesmo soando a servil.

O meu espaço tem roubado
mas não é isso que mais custa
aquilo por que ando triste
é ver os dedos em riste
de todos os com vergonha
dos falares do seu povo.

Renegar pai e mãe 
suas maneiras de falar 
não é de gente decente
aquilo que causa horror
é vê-los jurar
que com o meu nome
não conhecem mais 
que um simples peixe
grande perca de pudor.

Zé Varela
Setembro de 2024

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