órfãos de muitos


Quando já não há 

a quem perguntar

panal ou tendal? 

ou seria igual?


Aquela casa 

onde nasci

e veio abaixo em Agosto

terá sido da rega?

tanta água 

que da barragem vinha

e dava gosto

não a sabiam usar

regavam à bruta

era arrendada?

emprestada?

não consigo saber.


Aquela barraca da eira

onde morámos

grande luta

feita de restos

de tábuas velhas

quantos buracos tinha?


E aquela prima 

que nem eram parentes 

mas tu sabias

e pedias segredo

a minha vizinha

que também sabia

disso estou certo

mas nada dizia

e não era por medo

há coisas que nada 

se ganha em saber

em vão te apodavam

de língua de trapo 

eram tão injustos!

Também já não estás

a fazes-me falta

com tantas perguntas

que te fazia.


Órfãos

vamos ficando

órfãos de pais

órfãos de tios

órfãos de primos

órfãos de muitos. 


Quando já não há 

a quem perguntar.


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