a deusa da feira

No meio da multidão
nunca te aconteceu?
no meio da barulheira
da feira
ouvir-se uma flauta lá longe
diferente de tal maneira
que se tem que lá ir
ouvir
quer se queira, quer não queira.

De mulheres há milhões
e isto só em Portugal
mas, e contra a crença dos machões
nenhuma delas é igual.

Foi na feira medieval
entrei no pátio e lá estava ela
com na cabeça uma argola
que pra mim era auréola
não sei o que vendia
não era quinquilharia
de certeza
com seu bom-gosto de deusa
podia ter olhado?
podia
mas o meu olhar não descia.

Sorri-lhe, sorriu-me
ficámos horas
olhos nos olhos
quem visse diria:
— Que despudor!
as ondas hertzianas levavam
e traziam
terças maiores, quintas, sétimas
e até terças menores
numa perfeita sinfonia
em tom de sol maior.

Talvez não fossem horas
se calhar breves segundos
deu pra vislumbrar o que havia
atrás das suas pupilas
pássaros, jardins, violinos...
promessas de belos mundos.

Depois a vida
as vidas
nos levaram para longe
a cumprir nossos destinos
talvez não fosse o momento
como os figos nas figueiras
que não se devem colher
antes que estejam no tempo.

É paixão
de segunda adolescência?
não
paixão é fogo de palha
paixão é urgência
isto é a própria paciência
é calma, é assento.

É deslumbramento?
nem pensar
deslumbramento embota o olhar
e isto faz-me ver melhor.

É amor?
não sei, não tenho padrão
para aferir
uma coisa te prometo
vou descobrir!



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